Quando mencionamos de onde vem o café do nosso coado, cerrado goiano, podemos perceber a dúvida e a curiosidade sobre a origem da produção. E quando o mestre de torra Fernando Bakker da Civitá Fábrica nos trouxe este café ficamos muito felizes em contar esta história por trás do grão que oferecemos aqui no Garoa. Ainda pouco conhecida pelos clientes, a produção de café especial no estado de Goiás tem se destacado em concursos e o trabalho incrível da produtora Cristiane Zancanaro nos chamou a atenção.
Conheça abaixo um pouquinho da história desta produtora que foi muito generosa em compartilhar seu início na produção de cafés especiais, as características que podemos encontrar no grão, os projetos que desenvolvem na fazenda e como enfrentou esses tempos difíceis de pandemia.
Estamos encantados! Beber este café na xícara nos emociona muito mais.
GAROA: Desde quando trabalha com cafés especiais? E como foi o início?
CRISTIANE ZANCANARO: Trabalhamos com cafés especiais desde 2015, apesar da nossa primeira lavoura de café (11ha) ter sido plantada em 2009. Eu já trabalhava no negócio da família como Advogada consultora na área trabalhista e contratual.
Depois que fiz uma viagem para o Chile com meu marido fiquei encantada com o mundo dos vinhos. Nós já tínhamos café plantado na fazenda, mas não era eu quem cuidava dessa parte. Então, resolvi estudar e aprender in loco cada vez mais
sobre essa bebida tão mais complexa que o vinho. Fiz uma primeira experiência secando duas sacas de café na calçada de cimento da casa dos meus pais. Uma saca a sombra, outra ao sol. Os cafés pontuaram acima de 85 pontos. A partir
daí percebi que estávamos vendendo cafés especiais como bica corrida e perdendo a oportunidade de um mundo encantador de aprimorar nosso pós colheita, com separação dos lotes, o que nos fez conseguir cafés de mais qualidade, com
sensoriais diferenciados. De lá para cá, implementamos a via úmida para fazer o CD e o honey, o terreiro de cimento, terreiro suspenso, benefício, rebenefício, a eletrônica, o pós colheita com fermentação aeróbica e anaeróbica, o laboratório de classificação e qualidade, dentre outros.
G: O que mais te motiva nesse trabalho?
Cris: O que mais me motiva nesse trabalho é o desafio de se produzir um café especial! Para isso é necessário aprimorar ano após ano, ir atrás do que erramos e melhorar, estar atualizado, buscar tecnologia e sempre ouvir a natureza e sua intuição. Outra coisa que me motiva muito é a contratação das mulheres para fazer parte da cadeia, esse ano em especial tivemos nossa primeira tratorista, o que considero uma verdadeira vitória! Para se colocar funcionárias mulheres em alojamento temos vários desafios a serem superamos para que o mesmo seja seguro, e este ano além disso, conseguimos uma
mulher capacitada para um trabalho não manual.
G: Algum aspecto do cultivo ou processamento a destacar?
Cris: Esse café Catuaí vermelho 144, do pivô 10, teve todo um tratamento especial. Além de ser colhido separadamente do restante dos cafés da propriedade, eles foram selecionados manualmente por 15 mulheres. Elas selecionavam apenas os maiores e mais maduros. Após essa seleção, o café ficou com a casca que chamamos de cerejão (o café natural grandão) durante 12h dentro de um galão de 200L, (bombona) tampado sem entrada de oxigênio, com o airlock, ou seja, teve uma leve fermentação anaeróbica. Por fim sua seca se deu no terreiro de cimento, por 27 dias onde ocorreu uma seca lenta e homogênea.
G: O que o cliente pode esperar deste café?
Cris: O cliente pode esperar um café que acolhe! Que aquece seu coração. Todos os microlotes de cafés especiais da Fazenda Nossa Senhora de Fátima, como é o caso desse, são produzidos com muito amor, carinho e dedicação. Em todos os nossos processos, temos maquinários de ponta e recursos humanos altamente qualificados para que possamos exercer um excelente trabalho na produção dos nossos cafés. O cliente degustará isso em doses de qualidade, amor, carinho e dedicação, pois é assim que tratamos os nossos cafés aqui.
G: Projetos Sociais e de Sustentabilidade
Cris: A Fazenda Nossa Senhora de Fátima tem certificação UTZ/ Rainforest e fomos a primeira fazenda do estado do Goiás a ser associada a BSCA (Associação Brasileira de Cafés Especiais). Temos várias práticas sustentáveis e sociais pois a Família Zancanaro acredita na premissa de que devemos devolver para a terra o que ela possibilita. O mesmo cuidado que temos na produção do café, temos com o ambiente de cultivo.
Iniciativas ambientais:
• Reflorestamento constante de plantas nativa (30 ha atualmente);
• Tecnologias de maquinário para aumento de força/torque que diminuem o consumo de combustível;
• Convênio de pesquisa com instituições renomadas – dentre elas a Embrapa – para melhor utilização e conservação do solo com técnicas diferentes de dosagem de fósforo;
• Aquisição de equipamento de via úmida que utiliza apenas 30% do volume de água;
• Plantio de braquiária e nabo forrageiro na entrelinha do café, visando manutenção de umidade, aumento de matéria orgânica, uso eficiente da adubação, reciclagem de nutrientes e aumento da presença de abelhas e inimigos naturais de outras pragas.
Engajamento social:
• Doações de produtos cultivados na fazenda para entidades religiosas, sociais e casas de recuperação de dependentes químicos;
• Utilização de represa para produção de peixes para os colaboradores;
• Incentivo à prática de esportes com aluguéis de espaços e utilização de estrutura de terreiro – no período de não colheita – para a prática de exercício físico.
Aos clientes Garoa:
Cris: Queria compartilhar minha imensa alegria em fazer parte dessa parceria junto com o Fernando mestre de torra da Civita, e com o pessoal do Café garoa, que estão dispostos a contar a minha história, da minha família e da minha equipe extraordinária! O café pode ser muitooo especial, ter notas extraordinárias, mas se não for bem torrado ou bem extraído nosso trabalho se perde no meio do caminho. Não chega ao consumidor final com a qualidade e amor que o preparamos! Esse ano, em especial, foi atípico para todos, e mais do que nunca sabemos da importância de dar as mãos, delegar responsabilidades, confiar no outro, entender os erros, aceitar limitações. Para mim, Cristiane, foi um ano especialmente difícil pois de uma hora para outra tive que educar meus 3 filhos em casa nas aulas on-line, e minha equipe conseguiu levar o trabalho na fazenda com minha presença reduzida de forma espetacular. Teve o treinamento dos anos anteriores, sim; passaram muitas fotos e vídeos para mim, também; mas especialmente aceitaram o desafio e confiaram em si mesmos! E esse resultado vocês verão aí na xícara! Ah, não posso deixar de falar do meu irmão e meu pai que decidiram a melhor forma de gestão na parte de segurança nessa pandemia e minha mãe e minhas irmãs que são meu apoio incondicional!